Práticas políticas globais de desenvolvimento cultural regional
o legado dos Encontros Internacionais de Avignon dos anos 60/70 na conquista da palavra republicana
Palavras-chave:
Desenvolvimento Cultural Regional, Palavra Republicana, Herança Cultural, Festival de AvignonResumo
Esta comunicação revisita os documentos oficiais relativos aos Encontros Internacionais de Avignon, promovidos pelo Festival de Avignon nas décadas de 1960/1970 para pensar sobre a conquista da palavra republicana em meio aos debates efetuados no Verger d’Urbain V, lugar de memoria e espaço de preservação patrimonial da cidade de Avignon. A partir de trechos dos Coloquios de 1964, 1965 e 1966 refletiremos sobre os processos de transmissão cultural que delinearam a força da palavra republicana reinventada no seio dos Festivais de Avignon dos subsequentes anos de 1967 e 1968, redimensionando a experiência cultural regional. Sendo assim, traremos à tona as analises feitas por Jack Ralite nas mesas de debates e dialogos do Festival de Avignon, notadamente nos Ateliers de la Pensée em 2015 e nos Encontros do Verger em 1964, tensionando a relação entre palavra republicana e politicas culturais pela otica desta importante figura politica francesa, responsavel pela Declaração Universal dos Direitos da Cultura nos anos 80. A ressonância de trechos deste documento no séc XXI nos leva a reinscrever as especificidades culturais na superficie da memoria coletiva: “Quando um povo abandona seu imaginario a negociações mercantis, ele se condena a liberdades precarias”(RALITE,1987) Esta fala proporciona, portanto,um olhar para o desenvolvimento cultural regional fluminense, sublinhando a compreensão das necessidades culturais locais e das liberdades individuais que eclodem no interior dos processos de planificação economica e social em curso. Temos no Festival de Avignon, um modelo de pratica cultural estival onde o regional vai de encontro ao nacional, promovendo uma reconfiguração das territorialidades urbanas ao revisitar sua propria historia a cada edição. O tema da transmissão da herança cultural emerge nas entrelinhas dos Cahiers du Festival, onde lemos noticias dos primeiros anos do Théâtre du Soleil, enquanto cooperativa operaria que inaugura no Festival de Avignon 1967, com o espetaculo Les Clowns, o teatro ‘fora dos muros’, bem como, a ação do Living Theatre na constitição de novos espaços espetaculares como a Cloître des Carmes onde Julian Beck e Judith Malina se apresentam no mesmo ano. De forma que a espacialidade da paisagem patrimonial e o espaçamento da linguagem dialogam entre si, promovendo encontros que perpassam a transmissão de uma tradição cultural no espaço urbano. Temos na testagem do dispositivo Ouïe Dance pela equipe do Festival de Dança Les Hivernales em 2018, efetuada no mesmo espaço da Cloître des Carmes, um exemplo desta resignificação. O fenomeno de conquista da palavra republicana é entendido aqui no sentido proposto por Py(2012) enquanto parole parlante, ou seja, palavra endereçada às gerações futuras, capaz de reinventar um destino heroico no cotidiano, ao contrario do esvaziamento da palavra direcionada ao publico consumidor das midias de massa.