O papel político da Cultura

análise do Quilombo Cruzeiro de Cima - RJ

Resumo

Com o advento da globalização um processo de aculturação é financiado por diferentes atores políticos, econômicos e midiáticos, colocando em cheque a noção de identidade que é indispensável na manutenção de grupos sociais minoritários. Em contrapartida, grupos étnicos utilizam distintas manifestações culturais como ferramentas que afirmam a existência de um país culturalmente diverso. É de suma importância a compreensão do papel exercido pelas manifestações culturais na luta política pelo reconhecimento de grupos suprimidos no cenário nacional, incentivando a sua utilização como mantenedora das múltiplas identidades e estratégia de afirmação dos territórios. Assim, o presente artigo objetiva indicar o papel político dos traços culturais, materiais e imateriais, que surgem como instrumentos de resistência ao suposto estabelecimento de um sistema-mundo com cenário que omite a contribuição histórica e necessidade de amparo econômico e político de grupos étnicos culturais. O artigo partiu de uma compilação bibliográfica impulsionada por a visita de campo realizado em 2018 no Quilombo Cruzeiro de cima, situado no município de Natividade-RJ. A análise do recorte espacial demonstrou um cenário de desvalorização das raízes afro-brasileiras, marcado pela ausência de políticas públicas e de um olhar especial a situação econômica e infra- estrutural da localidade, todas, forças externas, que podem contribuir na extinção da memória histórica e permanência do quilombo. Desse modo, o remanescente quilombola conta com a supervalorização do artesanato de papel machê, produção de peças como o Jequi, preparo do fubá suado e da perpetuação da dança do jongo/caxambu, recursos que auxiliam no reconhecimento do território quilombola, evitando uma adequação a cultura de massa.