A representação afrobrasileira no samba
a construção da identidade negra na música
Palavras-chave:
Cultura afrobrasileira, Embranquecimento, Representação musicalResumo
A ação colonizadora nas Américas pelos conquistadores europeus foi seguida de um processo de perpetuação da submissão dos habitantes das “novas terras”, a noção universalista europeia, tendo no sujeito branco, do sexo masculino, cristão, heterossexual de classe média, um tipo ideal e universal. Nesse contexto, a consolidação do poder político, econômico e social ocorre a partir da permanência de um modelo de civilização às populações periféricas, num processo denominado colonialidade. Durante longo período, correntes ideológicas que perseguiam o modelo universalista de sociedade pregaram a necessidade de extirpar da sociedade brasileira a herança africana a partir de um ideal de branqueamento. Na contramão desse pensamento, intelectuais e artistas alinhados com o Movimento Modernista Brasileiro se encarregaram de absorver o sujeito negro e mestiço como símbolos de nacionalidade, o que por outro lado impôs também a desafricanização de alguns elementos da cultura negra, como o samba e a capoeira. Esse processo de “aceitação” e absorção da cultura negra à noção de brasilidade construiu também o discurso de democracia racial, contribuindo para atenuar conflitos e desigualdades decorrentes de um racismo velado. O presente artigo pretende analisar na letra de alguns sambas consagrados, como “Aquarela do Brasil”, de Ary Barros, e “Agoniza mas não Morre”, de Nelson Sargento, “Nem Ouro nem Prata”, de José Jorge e Ruy Maurity, de que maneira, apesar da ideia de democracia racial, permaneceram presentes as tensões raciais da sociedade brasileira, fruto da ação de colonialidade que se perpetua até os dias atuais.