Da democracia racial à reparação da dívida histórica
a inflexão discursiva na política externa brasileira para o continente africano durante os anos Lula (2003-2010)
Palavras-chave:
África, Lula, DiscursoResumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar a inflexão discursiva realizada durante os anos Lula em relação à política voltada para o continente africano. É sabido que a condução da política externa implica uma determinada visão sobre a região a qual se destina, neste caso, a região africana marcada pela sua diversidade. Por muitos anos, a visão destinada ao continente africano foi influenciada pelo pensamento de Gilberto Freyre que advoga a chamada “democracia racial” no Brasil, mediante o encontro entre o branco europeu, o negro e o índio. Por muitos anos, na visão dos estrategistas brasileiros, a África seria vista como um parceiro “natural”, tendo em vista a peculiaridade brasileira de boa convivência entre negros e brancos, negando assim, o peso da escravidão na história brasileira, bem como, suas consequências para a população negra após sua abolição tardia, em 1888. Os anos Lula representariam uma inflexão, à medida que, abandona-se uma visão harmônica entre negros e brancos e, por sua vez, reconhecem-se as tensões raciais no país, bem como, da escravidão como uma mácula do passado brasileiro. Substitui-se, assim, a questão da democracia racial para o reconhecimento da “dívida histórica” do Brasil em relação ao continente. Para verificar esta inflexão, o trabalho analisou discursos e realizou entrevistas com agentes políticos do período. Concluiu-se que esta inflexão faz parte das mudanças de atores no Estado brasileiro que trouxeram consigo um histórico de lutas do movimento negro e que, por sua vez, trouxeram impactos na condução das relações com o continente africano.