"Professor, eu só penso nisso"
a construção de saberes escolares em ciências humanas e suas tecnologias
Palavras-chave:
Currículo, Interdisciplinaridade, Relações de AprendizagemResumo
O currículo não é um documento neutro e imparcial na mesma medida em que as práticas de aprendizagem não se resumem a técnicas e procedimentos objetivos que asseguram, “comprovadamente”, eficácia no processo de ensino. Ao se problematizar o currículo, questiona-se a didática. Refletir sobre essa relação amparou a construção de um projeto de ensino articulando as disciplinas Filosofia, História e Sociologia. O alicerce da proposta baseou-se nos princípios de construção da autonomia, exercício da liberdade e solidariedade. Pautar-se por esses princípios demandou reorganizar o currículo, reconstruir as práticas de aprendizagem, deslocar o professor da posição de centro de difusão de conhecimento, flexibilizar tempos e horários pedagógicos e agregar aos objetivos da educação um propósito claro de intervenção na realidade social. A preocupação com a contextualização dos objetos de conhecimento a partir de uma abordagem interdisciplinar contribuiu para romper a fragmentação disciplinar e o isolamento docente, revelando também os desafios interpostos em um fazer educativo genuinamente coletivo. Em relação aos objetos de estudo, investigou-se problemas sociais contemporâneos à luz do processo de formação da modernidade ocidental, tendo como problemática maior as questões da desigualdade, dominação e exclusão (incluindo aí uma reflexão sobre várias antinomias que são constitutivas dos tempos modernos, a saber: indivíduo e sociedade; identidade e diferença; liberdade e dominação; igualdade e desigualdade; trabalho e capital; realidade e representação, etc.) O desenvolvimento do trabalho permitiu a construção de um saber escolar em que os conhecimentos, métodos e conceitos das três ciências de referência foram postos a serviço da construção de conhecimento através da pesquisa. Constatamos, por fim, que a reconstrução do currículo e das estratégias e relações de aprendizagem que o realizam podem contribuir para a superação da lógica da educação bancária, que ainda prevalece dominante na realidade escolar brasileira, e alterar a dinâmica das instituições de ensino.