Esquecimento e (des)legitimação
narrativa sobre o golpe civil-militar nos jornais de Juiz de Fora em 1964 e 2014
Palavras-chave:
Memória, Jornalismo, Golpe de 1964Resumo
Como narrativas jornalísticas acerca do golpe-civil militar de 1964 se distinguem na distância de meio século? A indagação inspira o estudo das coberturas realizadas por jornais juiz-foranos nos dias seguintes à deposição de João Goulart da Presidência da República e por ocasião do cinquentenário do golpe, em 2014. Juiz de Fora, em Minas Gerais, é um local significativo para o entendimento daquela ocasião, já que as tropas militares do general Mourão Filho partiram dessa cidade mineira rumo ao Rio de Janeiro para iniciar o levante. Os conteúdos analisados foram edições dos jornais Diário Mercantil e Diário da Tarde, datadas dos primeiros dias de abril de 1964, bem como publicações de 2014 veiculadas na série “50 anos do Golpe Militar”, produzidas pelo periódico Tribuna de Minas. A hipótese é a de que o intervalo de cinquenta anos proporciona compreensões mais amplas e elucidativas sobre o momento histórico que antecedeu os 21 anos de ditadura militar no Brasil. O propósito deste trabalho é o resgate de relatos da época em que os episódios tiveram lugar e de narrativas atuais sobre aquele fato histórico, de forma a flagrar possíveis renovações de sentido sobre o episódio. A análise se ampara em conceitos de enquadramento, colhidos nas investigações do professor Danilo Rothberg, que nos oferece duas concepções de enquadramento aplicáveis às situações estudadas: o enquadramento episódico e o enquadramento temático. As noções de narrativa, memória e esquecimento se sustentam na produção teórica do pensador francês Paul Ricoeur. Ao resgatar a discussão desenvolvida por este autor sobre o esquecimento, por exemplo, é possível perceber como silenciamentos contribuíram para a constituição de narrativas sustentadas como verdadeiras sobre aquele momento.